TEOLOGIA BÍBLICA DO NT

ANÁLISE DE ROMANOS 7
A primeira questão que devemos observar em Romanos 7:14-25 é se o texto deve ser entendido como tratando da luta contra o pecado que resta na vida cristã ou como sendo a intenção de Paulo de representar a impotência do ego fora de Cristo e do poder do Espírito?
Rm.7 não consiste simplesmente de uma certa tentação do ego (da vontade para o bem, do homem interior), mas na absoluta impotência do “eu” de romper, em qualquer medida, a barreira do pecado e da carne (Gl.5:17 e Rm.6:12).
Qual é a distinção entre esses textos e Romanos 7 na luta contra o pecado?
 Os outros textos são citados dentro da possibilidade e certeza de vitória (Rm.6:14; Gl.5:24). Romanos 7 está voltado para esclarecer a situação de morte do homem e o fato dele ter sido vendido à escravidão do pecado, por isso o clamor desesperado: “quem me livrará do corpo desta morte?”
 O poder em Cristo que é mencionado no verso 25 não são adaptações para a situação de morte, antes, dão um basta à soberania absoluta do pecado sobre o ego descrito em Romanos 7. O conflito é entre: o ego humano, o nous, lei de Deus X a lei do pecado (v.25) e não a luta entre velho X novo homem como em Gl.5:17.
O texto mostra claramente que apesar de tudo o que o “eu”, no homem interior pode oferecer como resistência a esse poder do mal, de nada adianta. Isso só torna a derrota mais profunda e a situação de morte mais desesperadora. Esse é o efeito antropológico de Paulo em Romanos 7.
A segunda questão é se a interpretação em favor do “eu” em conflito com o pecado de Romanos 7:14-25 pode ser reconciliada com o quadro geral que encontramos em outras passagens de Paulo (ex. Rm.12:2; Fp.2:13 diz que o nous deve ser renovado a fim de discernir a boa vontade de Deus) sobre a corrupção do pecado no homem fora de Cristo?
Romanos 7 assim como outros textos, trata sobre a escravidão do pecado e sua operação corruptora no homem. Mas, Romanos 7 realça ainda mais essa realidade. Isso nos leva ao claro ensino de que o conceito de bem e o zelo por ele não foram extintos da mesma forma em todos os homens, sob a lei ou sei lei.
Não está de acordo nem com os ensinos de Jesus nem com o de Paulo negar a todos aqueles que estão fora de Cristo o zelo pela lei ou o desejo de fazer o bem ou considerar tal coisa impossível para eles (Rm.2:14). O nous e a vontade quando não foram corrompidos e obscurecidos à maneira da vida pagã, entregue à libertinagem, precisam de renovação total, pois não lhes resta outra opção senão buscar a libertação não em seu próprio impulso moral, na lei, ou na luz da natureza, mas em Cristo.
Quem é o referente do “ego” de Romanos 7?
1- Para alguns não se trata do não cristão comum, mas daquele que se encontra em um patamar mais elevado que pode ser alcançado pelo não cristão. São os pré-cristãos.
2- Outros são da opinião que Rm.7:7 refere-se ao “estado interior” do judeu sob a lei.
3- Outros ainda preferem a ideia de um retrato geral de um homem sob a lei, antes e sem Cristo, mas visto pelos olhos de um cristão.
4- Outros defenderam a opinião de que aqui Paulo fala de uma espécie de período de transição no qual o homem se encontra e que, apesar de confessar a Cristo, ainda luta para apegar-se a lei.
5- Não se trata de um sentido biográfico ou uma descrição da experiência pessoal de Paulo antes e na ocasião de sua conversão. Rm.7 tem uma preocupação em termos histórico-redentor e não individual.
6- Não se trata também de uma simples declaração retórica e de generalização: um homem fora da lei visto com os olhos da fé.
Romanos 7 faz referência a todo homem moral preso à lei, e Paulo mesmo se identifica com ele pois já havia vivido assim. Esse homem é descrito em sua luta e derrota tendo a lei como aliada e o pecado e a carne como adversários, em suas aspirações elevadas e seu completo fracasso. Por isso, a expressão é forte e com alívio: “graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!” v.25. Isso não significa que toda essa descrição não tem qualquer ligação com a experiência própria do homem fora de Cristo ou que, também, não pode significar para ele, uma revelação da verdadeira situação em que se encontra. Paulo traça um retrato tão vívido e cativante, pois deseja colocar diante dos olhos não apenas do homem em Cristo, mas também do homem debaixo da lei, a necessidade absoluta de outro poder moral além do “ego”, do nous, do homem interior.